Um breve questionamento sobre “personal brands”.

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A opinião de Luciana Cani
Um breve questionamento sobre “personal brands”.
30 de Abril de 2021
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Um breve questionamento sobre “personal brands”.
Luciana Cani
Diretora Criativa Executiva da AKQA Portland
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Cada vez mais pessoas definem-se como marcas. Ver-se como uma marca nada mais é do que saber se promover, conhecendo e entendendo como melhor comunicar as suas habilidades e experiências. Hoje em dia a reputação online gera valor económico e o chamado valor social através da visibilidade promovida pela marca pessoal.

 

Entendo perfeitamente os benefícios de humanizar uma marca, mas questiono o caminho oposto: será que todas as pessoas - mesmo aquelas que não estão ativamente cultivando uma carreira de influencer -  precisam mesmo ser uma marca?


Numa pesquisa para este artigo, tive dificuldade em encontrar opiniões contrárias. Parece estar estabelecido que este é o caminho a seguir. Se você não tem uma marca pessoal, algo está errado.

 

Quando pensamos numa marca, pensamos em atributos, tom de voz e uma estratégia pré-determinada que guia todo o seu comportamento. Gosto de acreditar que somos muito mais flexíveis do que isso. Pessoas mudam de ideia, experimentam, arriscam, evoluem, erram, voltam atrás, se reinventam. 

 

Marcas têm rótulos, pessoas não. 

 

Jenny Odell, a autora de “How to Do Nothing” - um dos livros mais geniais que li recentemente - aponta como nas redes sociais é esperado que uma pessoa seja tão consistente e atemporal como uma marca. E como esta desumanização ignora as ambiguidades, contradições e os processos que nos tornam humanos.

 

Acredito que quando uma pessoa se torna uma marca, ela passa a criar uma expectativa de consistência e mais do que isso, ela sofre uma constante vigilância das suas opiniões. No mundo online não é permitido mudar de ideia publicamente ou ir além da nossa identidade pré-estabelecida. Justifica-se assim toda essa intolerância que vemos nas redes sociais. 


Hoje em dia, o verbo cancelar ou deletar é bem mais popular do que o verbo dialogar.

 

E assim como as marcas comunicam os benefícios de um produto, as pessoas comunicam as suas conquistas. Consequentemente a autopromoção torna-se a base da comunicação. 

 

E aqui vem um outro ponto que me faz pensar: marcas vulneráveis são consideradas fracas. O mesmo acontece com pessoas?

 

Num mundo de “personal brands” há pouco ou nenhum espaço para partilhar vulnerabilidade, falhas ou incertezas. Em outras palavras, ignora-se assim tudo aquilo que faz parte de qualquer carreira de sucesso.


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