Somos livres?

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A opinião de Maria Miguel Ferreira
Somos livres?
18 de Janeiro de 2019
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Somos livres?
Maria Miguel Ferreira
Head of Open Innovation - CEiiA

Aconteceu esta semana, em Portugal. Um jornal regional publicou um trabalho onde citava alguns empresários da região a criticarem a morosidade no licenciamento dos processos de obras e aos seus custos. Passados quatro dias, alegadamente, esse mesmo jornal foi informado por uma empresa municipal que, por indicação da autarquia, a renovação de um acordo comercial existente com a empresa detentora do jornal ficava sem efeito. O jornal em causa é o Jornal de Leiria e a autarquia é a Câmara Municipal da Marinha Grande. Desde que o BES/GES suspendeu a publicidade no Expresso, em 2004, evocando “perseguições”, que não me lembrava de ver tornadas públicas, em Portugal, pressões deste tipo (suspender relações comerciais) sobre a liberdade de imprensa. Mas todos sabemos que elas existem.

Do outro lado do Atlântico, o New York Times noticiou esta semana que o fundo de investimento Alden Global Capital, através da sua participada MNG Enterprises, fez uma proposta de aquisição hostil do grupo de media Gannet, de detém mais de 100 jornais diários e quase 1.000 publicações semanais. Entre eles, contam-se o USA Today e publicações históricas como o Detroit Free Press ou o The Tenessean (Nashville). Esta oferta, a concretizar-se, criará o maior grupo de jornais dos EUA, já que a MNG Enterprises é actualmente dona de uma empresa que opera sob o nome de Digital First Media e detém cerca de 200 jornais. O problema com esta operação é que o fundo Alden Global Capital é conhecido como um “destruidor de jornais”. O artigo do New York Times descreve várias operações de compra de títulos de imprensa, seguidas de práticas de “emagrecer” as redacções com processos de despedimento selvagens, contribuindo para destruir o jornalismo local. Um colunista da Bloomberg compara o actual líder do fundo Alden ao moralmente questionável Gordon Gekko, o personagem a que Michael Douglas deu vida no filme Wall Street. Não precisamos de ser muito imaginativos para perceber que um gestor ganancioso e sem escrúpulos dificilmente irá se importará com o dever de informar – que é a missão de qualquer jornal.

Com o negócio dos jornais em declínio e casos como os que descrevo a surgirem todas as semanas, o que se passa com o Guardian, no Reino Unido, é motivo de celebração. Quem lê o Guardian online talvez já tenha reparado no pop-up que parece sempre, ao fundo da página, a dizer: “Apoiem o The Guardian. Ao contribuir, ajudam-nos a proteger o jornalismo independente (...). O nosso jornalismo está aberto a todos, independentemente de poderem ou não pagar. Mas dependemos de contribuições voluntárias dos nossos leitores. Estamos nisto juntos (...)”. Esta estratégia de financiamento, que o Guardian pôs no ar em junho de 2016 - por oposição à estratégia de criação de paywalls por parte dos seus principais concorrentes - parece ter produzido bons resultados. No final de 2018, o grupo anunciou que atingiu o marco de um milhão de pessoas que, em todo o mundo, contribuíram para apoiar o jornal. Destas, mais de 500 mil apoiam o jornal numa base regular, mesmo quando o fazem com apenas um euro por mês. As contas do grupo relativas a 2018 ainda não foram apresentadas mas declarações recentes da directora sugerem que, pela primeira vez em muitos anos, a empresa vai atingir um resultado positivo. Recordemos o papel que o Guardian teve na investigação ao escândalo da Cambridge Analytica - que usou, sem autorização, os dados de mais de 50 milhões de perfis no Facebook ao serviço de máquinas de marketing político nas últimas presidenciais dos EUA - e talvez se compreenda definitivamente a importância de cada um de nós fazer parte da solução, quando se fala da crise dos media e da necessidade de assegurarmos uma imprensa livre.

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