Quero um crachá ou uma bandeira!

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A opinião de Bruno Batista
Quero um crachá ou uma bandeira!
28 de Dezembro de 2020
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Bruno Batista
CEO da GCI
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De cinco em cinco anos somos chamados a eleger o Presidente da República, o cidadão que irá ocupar o cargo mais alto da Nação. 


Não, não vou comentar sobre o perfil dos nove cidadãos que se apresentam ao cargo, nem tão pouco deixar transparecer a minha tendência de voto, sendo, certo, que irei exercer o meu dever cívico no dia 24 de janeiro.


No entanto e enquanto cidadão ligado ao mundo da comunicação não posso deixar de reparar o quanto as campanhas eleitorais mudaram ou evoluíram em 40 anos.


Lembro-me do entusiasmo que sentia sempre que o candidato (político) passava por Elvas e fazia a sua arruada e eram distribuídos panfletos, autocolantes que colava na roupa sem discutir candidato, partido ou cor política, de correr atras de bandeiras, canetas, réguas, sacos… enfim… merchandising político que fazia as delícias dos pequenos e dos graúdos.


Dois dos slogans de campanha que ainda hoje recordo de ouvir são: “Soares é Fixe” e “P'ra Frente Portugal"! Estávamos em 1986 e estes slogans, respetivamente de Mário Soares e Freitas do Amaral, estavam, sei hoje, em t-shirts, crachás, cartazes, autocolantes, bandeiras, panfletos. Curioso que nessas eleições tivemos pela primeira vez uma mulher a concorrer – Maria de Lurdes Pintassilgo –, mas o que a grande maioria da população recorda é o ruído.


Chegados aos anos 90 houve como que uma continuidade na aposta de uma fórmula vencedora. Era normal vermos o rosto dos candidatos em “grandes formatos” ou em pintura mural junto a rotundas ou pontos de grande afluência de público. As televisões, entretanto, quatro canais, pontuavam com debates ou entrevistas aos candidatos.


A entrada no século XXI havia de ditar uma mudança na estratégia das campanhas eleitorais, que se queriam então low cost. O merchanding foi reduzido, as tradicionais arruadas foram encolhidas e deu-se a primazia ao contacto via rede social, os folhetos ao manifesto no site ou rede social da candidatura. Ficaram os debates e entrevistas em rádio, televisão e programas de entretenimento. Os jantares/almoços com simpatizantes.


Em 2006 o então candidato Aníbal Cavaco Silva optou por falar pouco, evitar polémicas e repetir à exaustão as ideias-chave da sua candidatura. Cerca de 10 anos depois o candidato Marcelo Rebelo de Sousa apresentava a sua candidatura sozinho e tendo apenas como fundo a bandeira de Portugal.


É certo que vivemos tempos diferentes, que a pandemia é uma realidade, que estamos num tempo de crise económica e social que não facilita a mobilização das pessoas para jantares e comícios. Também é verdade que o aparecimento de novos atores na cena política, que têm apostado muito nos novos meios de comunicação e nas redes sociais, em detrimento das formas de comunicação dos tradicionais partidos políticos, veio trazer um mundo novo à forma como se comunica em política. Mas, tenho dúvidas se esta será a melhor estratégia para que os candidatos passem as suas mensagens. As entrevistas e debates são uma realidade, mas, por vezes, o conteúdo nem sempre é rico de ideias para o futuro; e muitos dos futuros votantes “não estão nem aí” para esse tipo de conteúdo. Isto sem esquecer que temos um país a várias velocidades.


Vivemos tempos de distanciamento físico, mas quem tem a missão de desenhar estratégias políticas deve ter presente que fazer “política low cost”, de marca branca, pode ser contraproducente. Afinal, temos cinco sentidos e o ruído posiciona a nossa mensagem.


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