O badwill do Smith

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A opinião de Bruno Batista
O badwill do Smith
11 de Abril de 2022
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Bruno Batista
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Por esta altura já muito se escreveu, falou e comentou sobre o caso da bofetada de Will Smith a Chris Rock em plena cerimónia de entrega dos Óscares.


Também já sabemos que Chris Rock fez questão de manter o ambiente positivo no seu primeiro espetáculo pós noite de Óscares, que, quando começou o espetáculo, um dos fãs gritou: "O Will Smith que se fo**" e que Rock de imediato corrigiu o sucedido dizendo "não" várias vezes.


Então, porque trago o tema para aqui? Porque, do meu ponto de vista, a atitude de Will Smith transformou aquilo que em Relações Públicas apelidamos de goodwill em badwill, ao mesmo tempo que mostrou ao mundo ser péssimo a comunicar.


O circo é um espetáculo magnífico, onde os palhaços dão cor, alegria e sobretudo arrancam gargalhadas à plateia. No entanto, há pessoas que têm medo de palhaços. E o que fazem? Conheço algumas que abandonam por momentos a sala ou a tenda e regressam após a atuação. Ou seja, aqueles que têm como missão fazer rir o público (mesmo quando os próprios choram por dentro) não agradam a todo o público, mas nem por isso são agredidos. Se transpusermos este exemplo para a profissão de humorista, a aceitação por parte do público é semelhante à aceitação que o palhaço recebe: há quem aplauda e vibre; há quem deteste.


No caso do palhaço poderemos estar perante traumas de infância – a Psicologia não é a minha especialidade –, mas no caso do humorista o que poderá estar em causa? Os limites do humor? Mas, será que queremos humoristas com limites? Aceitar uma piada não é mais democrático do que proibir que seja dita?

As respostas têm de ser democráticas, sendo certo que em nenhuma será aceite a violência.


Independentemente de a piada ser boa ou má, teremos sempre pessoas a rir e outras a não achar piada ou graça nenhuma.


Mas o humorista, tal como o palhaço ou o canalizador que chamei para resolver o problema do cano que rebentou na cozinha, ou o mecânico que me fez a revisão do carro, apenas, e só, está a desempenhar a sua função. Não é porque o cano que o canalizador reparou voltar a rebentar que chego ao pé dele e resolvo a situação à bofetada. Não é porque não gosto de palhaços que me levanto e dou um tabefe naquela cara que tem sempre um sorriso exagerado.


Em Portugal, temos profissionais muito competentes e os humoristas não são exceção. Veja-se o caso de Bruno Nogueira e a forma como o público acarinha humor feito com base na vida real e com temas nada fáceis ou simpáticos de abordar no nosso dia-a-dia.


Voltando ao caso da bofetada de Will Smith a Chris Rock, poderíamos ter assistido a um verdadeiro momento de relações públicas, de verdadeiro goodwill, se o ator, que parece não ter gostado da piada do comediante, apenas não tivesse aplaudido ou sorrido. Ou se quando subisse ao palco, para receber o seu Óscar, tivesse aproveitado a situação para, ali, “honrar” a mulher e eventualmente abordar/chamar à atenção para os malefícios da doença de que a senhora padece. Que grande exemplo Will Smith nos teria dado e que goodwill teria gerado para a sua imagem, para si próprio e, atrevo-me, para todos nós. Em vez disso, dá aso ao aparecimento de um novo termo para as Relações Públicas: badwill.


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