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A primeira medida do XXIV Governo Constitucional foi o cancelamento da identidade visual corporativa definida para a República Portuguesa se fazer comunicar.
A nova, e agora velha, identidade visual corporativa do Governo de Portugal, a marca que o executivo utiliza em toda a sua comunicação institucional, foi implementada pelo governo cessante tendo como fundamento a necessidade de uma marca mais adaptada à comunicação em ambientes digitais.
A visível simplificação do logótipo foi justificada pela dificuldade em manter a soma de cores e elementos constitutivos do anterior, que reduzia drasticamente a eficiência em ecrã, comprometia o uso em pequenos formatos e dificultava todas as possibilidades de animação. O resultado foi um símbolo com inspiração em elementos da bandeira nacional, mas que, ao contrário do anterior, fazia um esforço deliberado por não se confundir nem interferir com o estatuto, a dignidade e a representatividade da bandeira nacional, conforme explica o manual de identidade visual da marca.
Goste-se ou não da mudança implementada pelo Governo anterior, é irrefutável que o briefing foi claro, inequívoco e o impacto a alcançar mesurável. A proposta de valor foi direcionada a resolver um problema específico e pertinente, e foi sustentada nos princípios metodológicos e boas práticas do design de comunicação. O trabalho foi conduzido por especialistas com reconhecimento indubitável no mercado.
O cancelamento da identidade vigente e a reposição da logomarca anterior, ainda o novo Governo tomava posse, é uma decisão tecnicamente errada, por ser precoce, por ser imatura, por não estar suportada por um trabalho sério de análise e planeamento de marca. Taticamente é um erro, estrategicamente é uma mensagem enviesada. Eu leio amadorismo, ignorância ou simplesmente arrogância intelectual.
A identidade visual não se cancela, a identidade visual faz-se evoluir, caso não sirva determinado propósito. Se o novo Governo considerava que a identidade existente não era digna dos seus valores, como aliás Luís Montenegro já teria revelado anteriormente, a solução só poderia passar por promover uma reflexão estratégica no sentido de fazer evoluir a marca existente para uma mais alinhada com os seus objetivos - nunca cancelar a marca existente à pressa, sem plano e menosprezando um trabalho sério desenvolvido pelos profissionais que a construíram anteriormente.
Politicamente, a mensagem é de uma inversão total de prioridades e muita impaciência de um conservadorismo bacoco que não acrescenta nada para a resolução dos problemas dos portugueses.
A polémica instalou-se inevitavelmente - e estupidamente polarizou-se - Esquerda e Direita esgrimam agora opiniões sobre design de comunicação corporativa. A argumentação política é o palco do “achómetro”: discute-se um logotipo, um tema secundário, que estava completamente sanado e fora do debate público e que regressa agora para distrair os portugueses dos temas que efetivamente os preocupam.
Lamentavelmente, a desinformação está agora na espuma dos dias, o contexto propício para o populismo, que capitaliza a cada momento que o debate político sai da argumentação séria que sustenta a razão, para o vazio inócuo do “diz que disse”.
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