“Competition makes you better, always, always makes you better, even if the competitor wins.”- Carlos Slim

O mercado global de veículos elétricos vive hoje uma transformação profunda, marcada por um embate entre gigantes, onde marcas ocidentais tradicionais enfrentam dificuldades consideráveis. O protagonismo, que durante mais de um século pertenceu exclusivamente a marcas europeias, norte-americanas e japonesas, agora está claramente dividido entre duas potências inovadoras que moldam a mobilidade elétrica global: a americana Tesla e a chinesa BYD.

Economia, Inovação e Liderança

A Tesla, sob liderança idiossincrática de Elon Musk, tornou-se sinónimo da revolução elétrica no setor automóvel. Em 2024, registou receitas recorde de 98,68 mil milhões de dólares, vendendo aproximadamente 1,8 milhões de veículos globalmente. Apesar destes números, temos observado um declínio em vendas, já com impacto em 2024. Na Europa, 2025, iniciaram-se com protestos ideológicos contra o líder da Tesla, que impactaram negativamente as vendas muito embora as vendas de veículos elétricos de outras marcas tenham crescido atingindo 34% das vendas de veículos em janeiro.  

A BYD, líder absoluta do mercado chinês com vendas anuais de aproximadamente 4,1 milhões de veículos elétricos em 2024 apostou numa estratégia de produção agressiva que combina economias de escala com um controlo profundo da cadeia produtiva, especialmente no fabrico de baterias. Esta empresa tem investido fortemente em expansão global, com fábricas em construção no Brasil, Tailândia, Uzbequistão e brevemente na Hungria, além de planos para os Estados Unidos. A sua abordagem agressiva de preços e domínio tecnológico em baterias permitiu-lhe competir e ultrapassar rivais tradicionais, algo que muitas marcas ocidentais ainda têm dificuldade em acompanhar.

Um aspeto central na dinâmica entre Tesla e BYD é a vantagem económica estratégica que estas empresas construíram sobre marcas ocidentais estabelecidas. Enquanto as tradicionais fabricantes europeias e americanas enfrentam perdas financeiras significativas ao entrarem no mercado elétrico, a Tesla e especialmente a BYD têm estruturas de custos mais eficientes. A BYD, desde o início, apostou numa produção verticalizada que inclui baterias próprias e tecnologia acessível, permitindo-lhe competir diretamente em preço e escala.

Tabela comparativa: Tesla vs. BYD

A prevalência de fabricantes chineses como a BYD sugere que a batalha pelos veículos elétricos se define menos por ideologia e mais por realidades económicas. Na verdade, a grande vantagem da China está numa estratégia económica claramente planeada e executada: infraestrutura robusta, integração vertical da cadeia de produção e controlo sobre tecnologias-chave como as baterias.

Enquanto as marcas ocidentais ainda lutam com o peso das suas estruturas industriais tradicionais, tentando adaptar antigos modelos de combustão para plataformas elétricas, empresas como BYD já dispõem de processos industriais ágeis, eficazes e adaptados ao mercado global contemporâneo.

A inovação em tecnologia de baterias é um fator crucial na competitividade do mercado de veículos elétricos. A BYD tem demonstrado liderança significativa nesta área, especialmente no desenvolvimento de baterias de estado sólido. Em fevereiro de 2025, durante o segundo Fórum de Inovação e Desenvolvimento de Baterias de Estado Sólido na China, o diretor técnico da Shenzhen BYD Lithium Battery Co., Ltd., Sun Huajun, anunciou que a empresa iniciou a produção piloto de baterias de estado sólido de 60Ah em 2024.

A BYD planeia começar a instalação em massa dessas baterias por volta de 2027, com uma adoção em larga escala prevista após 2030. Estas baterias utilizam eletrólitos à base de sulfeto, conhecidos por sua maior estabilidade e eficiência de carregamento rápido. Inicialmente, a tecnologia será incorporada em veículos elétricos de médio e alto padrão, com a expectativa de que, com a redução dos custos de produção, seja estendida a modelos mais acessíveis entre 2030 e 2032. Este avanço posiciona a BYD na vanguarda da inovação em baterias, potencialmente redefinindo os padrões de segurança e desempenho no setor automóvel elétrico.

A ascensão inevitável dos novos líderes

A batalha pela liderança mundial nos veículos elétricos já não é uma questão do futuro – é uma realidade presente. A supremacia das marcas tradicionais europeias e americanas terminou abruptamente neste domínio, vítima de estratégias tardias e custos insustentáveis. As novas líderes – Tesla e BYD – mostram claramente que a inovação tecnológica e eficiência económica são as verdadeiras armas desta nova era automóvel.

O mercado dos veículos elétricos evidencia agora uma competição real entre uma estratégia premium ocidental (Tesla) e uma estratégia agressivamente competitiva e economicamente robusta das marcas chinesas (BYD à cabeça). A pergunta decisiva para o futuro será se as marcas tradicionais do Ocidente serão capazes de acompanhar ou se a liderança global dos veículos elétricos ficará mesmo dividida entre estas duas gigantes que dominarão o futuro do mercado.

Apesar da força histórica das marcas europeias e americanas no mercado automóvel, estas têm encontrado sérias dificuldades para justificar preços elevados num mercado cada vez mais sensível ao valor e à inovação tecnológica. À medida que empresas chinesas como a BYD oferecem produtos com autonomias cada vez mais amplas, designs apelativos e preços significativamente mais baixos, o tradicional prestígio das marcas ocidentais revela-se insuficiente para manter a fidelidade dos consumidores. Por outro lado, mesmo a Tesla enfrenta desafios crescentes, sobretudo na China, onde o diferencial de custo e a variedade de modelos colocam pressão crescente sobre a sua capacidade competitiva. A mensagem é clara: num mercado que se expande rapidamente, o valor económico supera a ideologia tradicional ligada à notoriedade da marca.