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O programa “Toda a Verdade” da semana passada - uma
adaptação americana de boa reportagem legendado em português - é um
autêntico murro no estômago.
Para quem não viu, faço um pequeno
resumo: é um retrato cru, simultaneamente emocional e factual, da crise
económica provocada pela pandemia. Falam com o mesmo empenho e rigor das
startups que vingaram a fazer material “anti-covid” em Silicon Valley e
das empresas que foram completamente arruinadas no Texas e noutros
estados. As primeiras uma absoluta minoria e as segundas uma esmagadora
maioria.
É
fácil quando tratamos os desempregados, os falidos e os arruinados como
um qualquer número numa qualquer estatística, mas quando vamos a cada
caso particular as coisas complicam-se. O pequeno agricultor que
despejou milhares de litros de leite no lixo, a família com um negócio
de catering que perdeu tudo e que não tem dinheiro para operar um filho
que partiu o braço, a jovem trabalhadora que perdeu o emprego e a casa, o
casal de classe média que ficou a viver dentro de um carro num parque
de estacionamento onde todos os dias chegam mais e mais famílias, muitas
delas com crianças e bebés. O texano rico do petróleo que agora
armazena o “ouro preto” porque tem prejuízo se o vender. Histórias de
pessoas como nós, com filhos como os nossos, com problemas iguais aos
que todos nós temos. Gente que em menos de um ano se viu de frente para a
miséria.
Prometemos
a nós próprios que iria ficar tudo bem. Mas a verdade é que não ficou
tudo bem - pelo menos para toda gente. Nenhum empresário do turismo, dos
eventos, ou da restauração poderia estar preparado para este massacre
às contas da sua empresa. Nenhum funcionário desempregado tem culpa do
que aconteceu.
E
no meio disto tudo o que aconteceu às marcas? No início a maioria
calou-se, depois algumas agiram e tentaram ajudar quem passa por
dificuldades, e houve ainda outras que depois de mensagens de esperança
decidiram seguir caminho e continuar a comunicar os seus produtos e
serviços, muitas vezes fingindo que nada de diferente se passa na vida
dos seus consumidores. Quais as marcas que estarão certas e quais as que
estarão erradas? Não esperem encontrar nenhuma resposta neste texto.
Para
nós pessoas que damos vida às marcas todo este filme soa a repetição.
Sempre que estala uma crise o marketing e a comunicação são os primeiros
departamentos a sofrer cortes numa empresa. Enquanto isso o talento,
que tanta falta faz ao nosso mercado, foge para as outras áreas onde a
estabilidade é maior e a prosperidade abunda. Hoje, é cada vez mais
difícil sermos um sector atrativo para um jovem ambicioso - que ao virar
da esquina tem tecnológicas e consultoras a pagarem melhor e a
investirem mais na sua carreira. Ainda muito antes da pandemia, já
estávamos a perder o nosso brilho - a crise que agora enfrentamos irá
inevitavelmente acentuar e acelerar este processo.
Dizemos
aos nossos clientes que as crises são sinónimos de oportunidades. Então
- se assim o é - o que é que nos falta para nos sentarmos todos à mesma
mesa e tentarmos perceber como podemos crescer todos juntos, em
facturação e também em qualidade do trabalho? Se a vida nos dá limões
era inteligente fazermos uma limonada, ao invés de esfregarmos o sumo
ácido nos olhos uns dos outros.
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