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Nota da direção editorial: Ultrapassámos os nossos records de audiência em Televisão e Online nos últimos meses. Obrigado por ter estado connosco!
Agora, que começamos um novo ciclo, queremos continuar consigo e a tê-lo sempre ao nosso lado. Mais do que nunca é preciso estarmos juntos!
A pandemia
trouxe muitas coisas más. Poderia, para ser politicamente correto, usar este
primeiro parágrafo para discorrer sobre os efeitos terríveis que o Covid19 está
a ter nas pessoas, nas empresas e nas famílias. Mas decidi propositadamente (e
egoisticamente até) saltar esta parte e focar-me num exercício bem mais
interessante: entendermos o que de bom esta crise sanitária e
económica nos trouxe profissionalmente e pessoalmente. Vamos lá, por
pontos:
1) O
teletrabalho
Muitas vezes
- muito antes de saber o que raio era um coronavírus - sonhei com um cenário
idílico em que me levantava de manhã cedo, preparava um café e começava o meu
dia de trabalho sem ter que sair de casa. Nos meus sonhos isso acontecia num
lindo alpendre com vista para o mar (que não tenho) e iria fazer com que o meu
trabalho fosse algo muito menos complicado e muito mais relaxado. Hoje todos
sabemos que não funciona assim.
No dia 12 de
Março, estava a almoçar com a família da minha mulher, para comemorar o
aniversário do meu sogro e estava longe de pensar que daí a umas horas iria
estar a mandar todas as equipas para casa. Mas aconteceu.
Tal como a
maioria dos portugueses vivi o início do confinamento como um género de
um homemade playground. Também eu me fartei de beber vinho,
também eu experimentei dezenas de novas receitas, também eu fui descobrir todos
os softwares de vídeo-call do mundo e por aí em diante. Mas também eu tive que
lidar com um filho ainda bebé em casa, um cão e um gato que se comportam pior
que o bebé, novos hábitos e novas rotinas.
Todos estes
meses depois, posso dizê-lo com confiança: dificilmente, mesmo depois disto
tudo passar, aceitarei trabalhar noutro local que não em casa. Ganhei foco,
criatividade, tempo e liberdade - e senti que com as minhas equipas aconteceu
precisamente o mesmo. Mas mais importante do que tudo isso, ganhei algo que é
mais valioso do que qualquer outra coisa: a incrível experiência de ver o meu
filho crescer ao meu lado.
Podemos
dizer que no Pós-Covid19 o mundo laboral voltará a ser o que era. Pelo menos na
nossa área tenho dúvidas muito sérias que tal aconteça.
2) A
transformação digital
Ganhar um
new business implicava, até há poucos meses, muitas deslocações: receber o
briefing do cliente, apresentar a proposta ao cliente, almoçar com o cliente,
voltar à sede do cliente, marcar a primeira reunião pós-pitch para que o
cliente conhecesse a agência e por aí em diante. Mesmo dentro das empresas tudo
tinha que ser feito face-to-face: as conversas boas, as conversas más, a
porra dos brainstorms, as reuniões de administração e por aí em diante. Quantos
eram os dias que chegados a casa nos sentíamos exausto de estar no trânsito, no
uber, a saltar de reunião em reunião, entornando uma chávena de café em cada
uma delas - mas sempre com a terrível sensação de termos tido um dia muito
pouco produtivo? Pois, não precisa de responder, ambos sabemos a resposta.
De um
momento para o outro, descobrimos que a solução para grande parte dos nossos
problemas estava mesmo ao nosso lado: no smartphone, no tablet ou no laptop.
Afinal os documentos podem ser assinados on-line, as reuniões podem ser no
Zoom, os brainstorms até funcionam no WhatsApp, a roupa pode ser comprada
on-line, um e-book permite-nos comprar um livro e começar a lê-lo no mesmo
minuto, o supermercado está sempre aberto no digital e podemos ter quase tudo
em nossa casa em poucos minutos através de aplicações como a Glovo.
O mundo
digitalizou-se mais em três meses do que nos últimos 10 anos e nada voltará a
ser como antigamente. A cabeça do consumidor mudou, as empresas alteraram
radicalmente o seu funcionamento e os nossos hábitos transformaram-se de uma
forma absolutamente radical.
3) A
diversificação dos negócios
Quando era
muito novo levei uma empresa à falência. Daí em diante vivi sempre apavorado
com a tendência para a especialização que alguns pantomineiros vendiam aos
jovens. E isso acontecia-me tanto a nível pessoal como empresarial. Foi por
isso que pessoalmente sempre tentei tocar o máximo de instrumentos possíveis:
ser criativo, ser gestor, ser consultor de comunicação política, dar aulas, escrever
em jornais, escrever livros e organizar eventos, nas mais distintas áreas. Na
vida empresarial tentei também fazer o mesmo: não ter a empresa focada numa
única área ao ponto de se ela sofresse algum corte abrupto isso condenasse o
futuro do negócio. Foi o que nos valeu.
Durante os
últimos meses, muitas foram as empresas que reinventaram e descobriram novas
fontes de rendimento. O gestor de hoje - principalmente o dos setores mais
afetados pelo impacto económico da pandemia - vive meses que equivalem a dois
ou três MBA's de elite. A lição que ficará certamente para o futuro é que as
pessoas e as empresas têm que ter sempre um plano A, B, C, D e quanto mais
letras o alfabeto nos permita.
4) Uma nova
perspectiva sobre a vida
O ritmo
moderno e a pressão das redes sociais fez com que durante os últimos anos quase
que em rebanho a sociedade estabelecesse uma espécie de check-list oficiosa e
preocupantemente uniformizada das coisas que tínhamos de fazer e conquistar na
vida para sermos tidos e aceites como pessoas "normais" e
bem-sucedidas.
Quase todos
os CV's que recebo são aborrecidamente iguais: escola secundária, cursos de
línguas estrangeiras durante a escola secundária, licenciatura, erasmus durante
a licenciatura, voluntariado durante a licenciatura, mestrado, erasmus durante
o mestrado, estágio curricular sugerido pela faculdade e por fim chavões de
como "quero estar numa empresa em que sinta que acrescento ao algo ao
mundo". Na vida pessoal: toda a tralha académica, mochilão pela América
Latina, viagem de descoberta "do seu eu interior" à Ásia, emprego
estável, casa própria com reminiscências vintage da infância na decoração,
fins-de-semana em alojamentos locais com piscina que não aceitam crianças,
casamento, filhos e fins de semana em alojamentos locais com piscina que
aceitem crianças.
O Covid19
acabou, pelo menos nos próximos tempos, com muitas destas coisas, a começar
pelas viagens e a acabar com uma alteração brutal no mercado laboral que
infelizmente pagará pior, terá menos oportunidades e empurrará mais pessoas
para o desemprego. Principalmente os mais jovens.
Como em
todas a grandes crises haverá duas posturas possíveis: ficar a chorar sobre o
leite derramado; ou em alternativa percebermos que esta é a melhor oportunidade
de nos reinventarmos, quer enquanto profissionais, quer enquanto pessoas.
Quanto mais originais formos, mais sucesso teremos.
5) Não
podemos ter nada como certo
Se recebesse
uma nota de 500€ de cada vez que ouço a palavra "o meu business plan para 2020
era uma coisa incrível em Janeiro" tinha mais dinheiro do que o lucro que
o Getty Image teve durante estes meses com todas as campanhas publicitárias que
foram feitas unicamente com recurso a banco de imagem.
Bastava o
tipo lá na China ter fervido o Pangolim (ou morcego, ou lá o que foi) antes do
comer e provavelmente não estaríamos todos nesta situação. Mas precisamente por
isso temos que tirar uma lição importante dos tempos que vivemos: nada na vida
é garantido e para sempre.
Talvez por
isso tenhamos todos que aprender a viver mais intensamente, mais preocupados
com o presente e fazendo menos conjunturas sobre uma realidade futura que daqui
a 10, 5, ou 2 anos pode não ser nada daquilo que esperávamos.
Na vida como
nos negócios o hoje importa mais do que o amanhã, o amanhã mais do que o depois
de amanhã e assim sucessivamente.
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