Para muitos de nós, o relacionamento mais duradouro que temos na vida é com a nossa profissão.

Tomamos a decisão do que fazer por volta dos 18, 20 anos e passamos outros 30 ou mais trabalhando naquilo que escolhemos.

Como todo relacionamento, há momentos maravilhosos e há momentos não tão bons. A questão é, como manter a chama? Como voltar a se apaixonar novamente? Ou ainda como redescobrir novos interesses depois de tantos anos juntos?

Por muitas vezes, nesses 21 anos de carreira, me deparei com essa dúvida. Não acho que seja algo específico da publicidade, mas a minha profissão mudou consideravelmente nos últimos tempos. Eu também mudei. Depois de todos estes anos, não sou a mesma. Como não nos tornar duas estranhas?

Para algumas pessoas, e felizmente já para algumas empresas, o período sabático tornou-se um bom modo de ter um afastamento saudável do trabalho. Aqui nos Estados Unidos, já se vêem muitas empresas oferecendo sabático como benefício após um certo número de anos de trabalho. E melhor de tudo: sabático pago. O funcionário pode se afastar por algum tempo. Dias de férias não são descontados, o salário é depositado normalmente e depois desse período, o lugar está garantido de volta. Geralmente, os funcionários voltam com a energia renovada e muito mais motivados.

Bom para eles, mas também ótimo para a empresa que usa o sabático como uma ferramenta para reter talentos. Afinal, cada vez menos profissionais vão para uma empresa com o objetivo de ter um relacionamento de longa duração.

Muito comum também é ver pessoas que economizam para um período sabático. Pedem demissão e vão fazer outra coisa. Em grande parte dos casos, essas pessoas não voltam a exercer a mesma profissão. Nesse meio tempo, encontram uma outra paixão.

Apesar de sempre ter adorado a ideia de sabático, não foi assim que solucionei a minha crise com a profissão. Comecei a viver um relacionamento aberto. Fui me deixando interessar por outras coisas. Fui estudar algo não relacionado com a minha área, conhecer pessoas que não tinham nenhum interesse em publicidade. Durou pouco mais de um ano e, sem eu dar por isso, estava reconciliada com a minha atividade novamente.

Cada vez mais penso que, no mundo do trabalho, fidelidade não importa. É preciso explorar novas experiências e se permitir viver para além daquilo que é o nosso dia-a-dia.

Daí a importância de se manter algumas paixões paralelas. Projetos onde somos o funcionário, o chefe, o cliente - tudo ao mesmo tempo. Trabalhamos para nós e para um único objetivo: a nossa satisfação.

E isso não é nenhum segredo.

Há empresas como o Google que permitem que seus engenheiros utilizem 20% do seu tempo em algo que lhes dê prazer. Muitos dos projetos desenvolvidos posteriormente pela empresa vieram de ideias concebidas durante este tempo livre.

Não é só no mundo do trabalho que isso tem acontecido. Inspirado por essa inciativa do Google, nasceu um movimento nas escolas chamado “Genius Hour”. Durante um tempo, os estudantes podem escolher aquilo que querem aprender e são incentivados a desenvolver um projeto com o objetivo de aumentar o conhecimento na sua área de interesse.

Mas, se não somos um estudante e não trabalhamos no Google, talvez seja nossa responsabilidade nos fazer apaixonar pela nossa profissão diariamente.

Criatividade e uma certa liberdade sempre foram uma boa receita para um relacionamento longo e saudável.